data
hora
conferencista
interlocutor
local
03.03
18h00
VITO ACCONCI
ALEXANDRE MELO
BAG
Arte Pública em Tempo Privado
O ímpeto para um projecto é o sítio e a situação. Os nossos projectos tem um diálogo, talvez uma discussão, com o local; o projecto subverte ou re-inventa ou revivifica o local. Os nossos projectos performam o local, como se estivéssemos a lisonjear o projecto fora do sítio, como se tivesse estado lá todo o tempo. Os nossos projectos subvertem o lugar, como um terramoto; eles anexam-se ao local, como um parasita; eles replicam o lugar, como uma doença. O nosso intento é colocar o lugar nas mãos das pessoas: libertar o lugar e as pessoas que usam o lugar. Os nossos projectos mergulham dentro e fora do sítio - não como uma forma mas como um evento, e como uma trajectória para eventos. Os nossos espaços públicos são fluxos do privado para o público e regressam novamente; os nossos espaços públicos quebram-se dentro ­ e voam em ­ cápsulas privadas. Construímos um mundo dentro do outro: paisagem dentro da arquitectura; urbano dentro do rural, virtual dentro do actual e vice-versa. Os nossos projectos instalam andaimes que suportam outro sítio, outro em torno ou dentro do antigo: uma cidade futura, uma cidade no ar, uma cidade de ar, precisamente porque não esteve lá todo o tempo. O lugar antigo é defendido por ele próprio, enquanto o novo é anexado como um (literal) para-lugar. No fundo do nosso pensamento está o sonho de escapar do sítio: o sonho da casa que podemos trazer connosco, como a tartaruga: o sonho da cidade que trazemos connosco, na nossa mente e através do nosso corpo.
Vito Acconci é artista plástico, nasceu em 1940 em Bronx (Nova Iorque) e licenciou-se em Literatura em 1962, pelo Holy Cross College. Actualmente trabalha e reside em Brooklin (Nova Iorque). O trabalho de Vito Acconci é bastante multifacetado, incluindo poesia, pintura, performance, bodywork, instalação, vídeo e instalação em arquitectura. Inicia a sua carreira artística como poeta. Os seus primeiros trabalhos no contexto das artes plásticas, em finais dos anos 60 início dos anos 70, situam-se no âmbito da bodyart, utilizando como suportes a fotografia, o filme, o vídeo e a performance. Em meados dos anos 70, Acconci inicia a criação de trabalhos de arte pública. No início dos anos 80, começou a desenhar protótipos de habitações - baseados na temática Mobile Home (Instant House em 1980 e Mobile Linear City em 1991) ­ e projectos de ruas e jardins (Chenôve em 1993). Actualmente as suas procupações centram-se sobretudo nestas últimas áreas; no seu estúdio, vários arquitectos concebem projectos para espaços públicos: praças e ruas, parques e jardins. Já construídos foram um jardim interior no Aeroporto de Filadelfia, uma praça no Midwest Convention Centre em Milwaukee, um passeio com monitores na Shibuya Station em Tokio, um pátio móvel no Buildings Department Administration Building em Munique. Recentemente a construir são um sistema de lugares sentados para a 161st Street Subway Station em Bronx (Nova Iorque), um sistema luminoso para o Aeroporto de São Francisco, e um projecto de design para uma loja do Museum fur Angewandte Kunst em Viena. Nos vários trabalhos de arte pública de Vito Acconci, realizados em várias regiões do mundo (Nova Iorque, Japão, Colorado, Holanda), é possível visionar o questionamento das bases estéticas e políticas da arte pública. Recebeu já vários prémios importantes, de entre os quais o John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship e o American Academy in Rome Collaborations Grant. Leccionou também em várias universidades, incluindo a Yale University e a School of Visual Arts em Nova Iorque. Vito Acconci foi um dos destaques da Bienal de Lyon de 1995, e é considerado um dos pioneiros do Super 8.
Alexandre Melo é Doutorado em Sociologia da Cultura, pelo ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa). Licenciou-se em Economia pelo ISE (Instituto Superior de Economia) e em 1982 começou a leccionar como Assistente e posteriormente como Professor no ISCTE. Para além da docência universitária, mantem colaboração regular na imprensa escrita. A larga maioria dos textos foi publicada no " JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias" e no " Expresso" de que é colaborador regular desde 1982. Na área especializada das artes plásticas colaborou, desde 1988, entre outras publicações, no diário "El País" e nas revistas internacionais "Artforum", "Flash Art" e "Parkett". Entre 1991 e 1995 foi responsável pelo magazine televisivo de artes plásticas "Ver Artes" na TV 2. Desde 2000 colabora como crítico de arte na SIC. Participou também em inúmeros colóquios, congressos, encontros e conferências, em Portugal e no estrangeiro. Organizou várias exposições em Portugal e no estrangeiro, de entre as quais se destacam : " High Art Society", Galeria Atlântica, Porto, 1989; "Complex Object", Galeria Marga Paz, Madrid, 1989; "10 Contemporâneos", Fundação de Serralves, Porto, 1992; Retrospectiva Eduardo Batarda, Fundação Gulbenkian, Lisboa, 1998; "Lost Paradise", Galeria Presença, Porto, 1998; "Lost Paradise", Galeria Presença, Porto, 1999. Foi comissário da representação portuguesa à Bienal de Veneza 1997, com uma exposição de Julião Sarmento. Tem inúmeros textos publicados em monografias, volumes colectivos e catálogos de exposições realizadas em Portugal e no estrangeiro. Desde 1996 é consultor no Centro Cultural de Belém onde dirige a revista cultural "Belém". Alguns dos livros publicados: " O que é arte?", 1994 ; "Velocidades contemporâneas", 1995; " Julião Sarmento" (com Germano Celant), 1997; "As Artes Plásticas em Portugal dos anos 70 aos nossos dias", 1998; "Arte e Mercado em Portugal", 1999.